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La Loba

  • Foto do escritor: Susan Duarte
    Susan Duarte
  • 8 de mar. de 2023
  • 5 min de leitura

Mulher. Quem é ela?

Será que é de louça? Será que é de éter? Será que é loucura? Será que é cenário?

Mulheres. Quem são elas?

Será que é uma estrela? Será que é mentira? Será que é comédia? Será que é divina?


Se apenas a Beatriz de Chico Buarque admite tantas versões, imagine só as possibilidades sem-fim e combinações sem-conta para todas as manas & minas & ladies espalhadas pelo globo azul.


Mirem-se no exemplo daquelas mulheres de Atenas.

Hummm. Não, Chico, dispenso.

Não acredito que uma mulher deva mirar-se no exemplo de outra. Somos tão únicas, tão ricas, complexas, a própria força criadora e criativa em ação, que seria um desperdício inafiançável se cada mulher não fosse exatamente como é.


Há mulheres de todas as cores, de muitas idades, muitos amores, no samba de Martinho e na vida real.


No poema de Alencar, a mulher é Iracema. A virgem dos lábios de mel, que tinha os cabelos mais negros que a asa da graúna e mais longos que seu talhe de palmeira. O favo da jati não era doce como seu sorriso; nem a baunilha recendia no bosque como seu hálito perfumado. Ah! Numa guerra, dizem os irlandeses, matem todos, só não matem os poetas.


Pra Caetano, além de linda, mais que demais, ela é forte, dentes e músculos, peitos e lábios, mulher das estrelas, a dona do carnaval. O Rei Roberto não quer saber da sua vida ou história nem do seu passado. Da mulher de 40 ele só pediu pra ser o seu namorado. A Maria de Milton Nascimento é um dom, uma certa magia, uma força que nos alerta. É uma mulher que merece viver e amar como outra qualquer do planeta.


As mulheres de Tom Jobim são muitas. Pra Ligia, ele fez um samba-canção das mentiras de amor, mera ilusão, que com ela aprendeu. Pra Luiza, fez uma canção de amor pra esquecer dos sete mil amores que guardou pra ela - no amor e na guerra o paradoxo é permitido, afinal. E pra uma garota sem nome, a moça do corpo dourado do sol de Ipanema, que tinha em seu balançado mais que um poema, pra ela, anônima, dedicou a beleza que existe.


As descrições acima enlaçam somente referências brasileiras. Existem muitos enredos possíveis para a vida de uma mulher. Enredos vários, tantos quanto o seu rio criativo, o rio por debaixo do rio, que flui e floresce em seu ventre fértil.

O que importa é que ela seja feliz.

Aponto um rumo para esta tal felicidade: mulheres instaladas o mais próximo possível de sua essência. Afinal, nada violenta mais a sensibilidade feminina do que viver aprisionada em vocações e situações que não são as suas.

O que importa que ela seja respeitada.

Em qualquer lugar, sob qualquer circunstância, respeitada. E eu sequer acredito que estou gritando por RESPEITO! ao feminino em 2023. Respeitada por quem somos - meninas, mulheres, exaustas, doidas, santas, hereges, bruxas, covardes, atrevidas, assanhadas, recatadas, gordas, magras, altivas, passivas, mulheres. Sobretudo, mulheres respeitadas. E nada mais.

O que importa é que ela seja protegida.

Há razões históricas e sociais às pencas que descrevem a origem de tamanha brutalidade conferida ao feminino. O feminino dá a vida, nutre a vida, educa a vida. Como dizia minha avó, o buraco é sempre mais embaixo e, nesse caso concreto, revela um certo desprezo, um desrespeito velado à própria vida manifesto na violência ao feminino. Proteger o feminino é proteger a vida.

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Dânae, 1907, Gustav Klint.
O que importa é que ela seja amada.

Em todas as referências citadas ela foi genuinamente amada. Ah o amor! E se ela soubesse que quando ela passa, o mundo inteirinho se enche de graça, e fica mais lindo por causa do amor. Grande parte desse amor é dela para com ela, no intuito de se nutrir do amor mais bonito - o próprio. Nasce uma mulher nasce uma culpa, delata a anedota popular. O feminino tem um tendência egóica exacerbada à autodepreciação. E na real, à sua maneira, ela é maravilhosa somente por ser ela. Amor-próprio também é sobre merecimento. Que ela não aceite goela abaixo qualquer relacionamento, qualquer trabalho, qualquer situação que lhe viole a alma e apague a chama.

E se quiser, puder, que ela seja mãe.

Ainda não sou mãe. Para além do desejo de trazer uma vida ao mundo, tenho profunda curiosidade pela experiência - metafísica - de carregar e formar uma vida no meu ventre. Em nenhum outro momento, a mulher está tão em si, profundamente conectada à sua natureza instintiva. Na minha gravidez futura, vou rodopiar por aí com os xailes de minhas avós, o coque no cabelo de minhas ancestrais, seus incensos e velas, enquanto rezo e medito entre um enjoo e outro.


A dança da vida é shakti-shiva-shiva-shakti num fluxo ad infinitum entre dar e receber. Se Shiva quiser esmagar Shakit ou se ela desejar ser superior a Shiva, simplesmente a música para, a dança se encerra, a vida não flui. O princípio feminino e masculino são opostos complementares que dançam no ritmo da vida.

A dança sagrada de viver é divina porque ambos coexistem.

O que seria do Yang sem o Yin? Não seria, pois até pra isto - ser e nascer - Shiva precisa de Shakti. Sempre me emociono quando vejo um casal sênior de mãos dadas pela rua. Tal gesto expressa a beleza da Criação, o yin e o yang entrelaçados pela natureza, num retrato fiel ao desenho de Deus. Não adianta discutir com o que é. Chega de tanta verticalidade! Superior, inferior, extremos, melhor, pior, polaridades. Porque na real, o Yin e o Yang, a Shakti e o Shiva foram feitos para andar juntos, lado a lado.


Seja a Beatriz do Chico, as mulheres de Atenas e de Martinho, a mulher de 40 do Rei, a Ligia, a Luiza, a Garota anônima de Ipanema do Tom, a Iracema de Alencar, a mulher das estrelas de Caetano, a Maria de Milton - ainda assim é apenas ela.


Mulheres.

Nesta data tão nossa, tão feminina, tão plural e igual, desejo a todas o meu sonho de mulher, aquilo que chama ao fundo de los ovarios, no hambre del alma.

Qual o meu sonho feminino?

Ser uma mulher que ri e corre livre na direção do horizonte.


Hoje eu não quero ganhar flores. Meio La Loba, só quero rir e correr livremente, instituída de nossa natureza selvagem, florescendo pela existência afora.


Que haja flores no horizonte de todas elas!

Minhas irmãs.

Marias.

Mulheres.


Até sempre,

Susan Duarte

Ceo & Founder Zeitgeist iD | A sua marca no espírito da época.

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Ps Relevante:

Dedico este texto a minha avó Elaine - materna. Ela que foi outra Maria, única em sua intensidade, e virou mulher das estrelas no nosso dia - 8 de março de 2021.


Tinhas razão, vó. Meus dedos de pianista cresceram ao piano; sou escritora; sou mulher. Mas cá entre nós duas, a menina que ainda sou sente uma saudade perpétua dos teus bolinhos de chuva. Com amor, Su.

REFERÊNCIAS

  1. Mulheres de Atenas e Beatriz. Chico Buarque

  2. Mulheres. Martinho da Vila

  3. Ligia, Luiza, Garota de Ipanema. Tom Jobim.

  4. Mulher de 40. Roberto Carlos

  5. Você é linda. Caetano Veloso.

  6. Maria, Maria. Milton Nascimento.

  7. Livro Mulheres que correm com os lobos, Conto Junguiano La Loba de Clarissa Pinkola.

Fica a dica: seja uma mulher que levanta outras mulheres!








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