Essa tal felicidade
- Susan Duarte

- 19 de mai. de 2023
- 4 min de leitura
Atualizado: 20 de mai. de 2023
Andei pensando na felicidade. Só pensei nela, é claro, porque antes de pensá-la, experimentei a dádiva de senti-la, de repente, do modo mais bonito que há: espontaneamente.
A felicidade foi desenhada para ser sentida, não pensada. A premissa de senti-la no coração é percebê-la. A felicidade é simples, quase camuflada, adota os mais diversos disfarces, todos, revestidos de simplicidade. É camaleoa, adora brincar de se esconder, manhosa que só ela. Feito vagalumes num sonho de uma noite de verão, cisma em aparecer somente quando paramos de procurá-la. Cantando rapte-me, camaleoa, quando dei por mim, um sorriso inocente, autêntico, inesperado, invadiu o meu rosto e revelou um brilho nos olhos, desse que só surge quando a chama da alma flameja.
Eu já tentei ser feliz. Fracassei. A lógica argumentativa delata o meu erro: não há como obter a resposta certa questionando a pergunta errada. Errei tanto que só não ganhei de Crasso. Felicidade não pode ser tentada. Ela apenas é.
Mas afinal, por onde passa a alquimia da felicidade?
Felicidade é percepção, é questão de perspectiva. Poliana e seu jogo do contente conseguiu o milagre de se alegrar com tudo o que lhe acontecia. Ver é uma arte. O copo está meio cheio ou meio vazio? Meio Poliana, aprendi a reconhecer até mesmo o copo, a água. Sede, afinal, também é sinal de vida. E nesse ínterim, já agradeço por estar viva.
Falando nisso, felicidade é gratidão. Um coração ingrato, que nada reconhece, só sabe reclamar, mimado, de birra com a vida, na intenção de receber mais, não é morada na qual ela se instale. Gratidão é um estado de consciência. Ser uma persona non grata é destino certo para ser infeliz. Agradeço pelo céu azul de brigadeiro, o ar que respiro, meu lugar no cosmos, por estar viva. E nesse estado de ser, eu sei, ela gosta de habitar.
A felicidade é como a gota de orvalho numa pétala de flor. Brilha tranquila, depois, de leve, oscila, e cai como uma lágrima de amor. Tom Jobim
Felicidade é um ato de fé. Na vida, num Deus, numa Deusa. A magia está em acreditar, nem que seja apenas crer que ela existe, que é possível, que está ao alcance de uma nova percepção, à distância de um outro jeito de olhar.
Ela também já foi, e muito, distorcida. Virou angústia contemporânea. Convém esclarecer uma distorção comum: felicidade é atributo do ser, não do estar. A beautiful mess começa assim: vou ser feliz quando os planetas se alinharem a 67 graus de distância do meu signo, depois que perder 10 kg, fizer 10 milhões e escalar o Everest. Aí então, só então, alcançarei a felicidade, lá no topo do Everest.
A felicidade é muy amiga da simplicidade. Um jeito óbvio de espantá-la é condicioná-la.
A menor coisa, precisamente a mais suave, a mais leve, o farfalhar de um lagarto, um sopro, um psiu, um olhar de relance - é o pouco que faz a melhor felicidade. Silêncio. Nietzsche
Da neurose de nosso zeitgeist à Grécia de Aristóteles, a felicidade, lá, era a eudaimonia e passava pela construção de virtudes. Se conseguir encontrar felicidade duradoura e genuína nos vícios, provavelmente, é um disfarce, não se trata dela verdadeiramente.
Orfista e francês, Robert Delaunay traduziu um conceito très chic em sua obra. Joie de vivre é a elegância francesa aplicada à vida, o jeito francês de viver a alegria simplesmente porque se vive. É aquela alegria simples, cujo referencial se encontra na própria vida, não em algum everest imaginário e inatingível.

Joie de vivre é a humildade de reconhecer a alegria no gerúndio de viver.
Desconheço traje mais elegante do que esse: revestir a alma de joie de vivre, a alegria de viver só porque se vive. Viver é bom. Viver alegre, então, numa espécie de serenidade contente, é felicidade.
Decidi manter meu coração aberto pra vida. Ninguém aguenta mais tanto medo. Dá muito trabalho se defender o tempo todo, andar por aí com farpas e espadas em punho, num modus operandi defensivo que desconhece trégua. Cancelei a guerra. E no meio do caminho, ao invés de pedras, quem tem aparecido é ela.
Percebi que a felicidade aprecia a harmonia alquímica dos 3 acordes desta tríade: percepção, gratidão e fé. Parei de tentar ser feliz. Simplifiquei, e resolvi, só ser. Pra minha surpresa, a camaleoa da felicidade tem me raptado seguidamente, furtiva, em cada esquina de encantamento, a cada passo de reconhecimento. E nesse compasso, ela aparece, essa tal felicidade.
Cansei de me contentar com os aperitivos de alegria que a vida me ofereceu. Vou em busca da degustação completa dessa tal felicidade. Autoria desconhecida
Num sonho de uma noite de verão, não procure os vagalumes. Deite-se na grama, aprecie as estrelas. Talvez, feito Hamlet, seja só dormir, dormir, talvez sonhar. Ao acordar, eles estarão ali, brilhando. E por baixo deles, naquele instante, reluzindo ela vai estar, essa tal felicidade.
A felicidade está nas estrelas que esquecemos de contar.
Até sempre,
Susan Duarte
Ceo & Founder Zeitgeist iD | A sua marca no espírito da época.
©Copyright 2023 Zeitgeist iD.
p.s.: Sat Chit Ananda. Siga sua alegria!








Comentários