A Sereia e a Santa

A Sereia Desistência e a Santa Ignorância: as deusas de nossa época.

Se cair 7, levante 8, chore 9, tente 10, caia 11, até acertar 1 vez que seja, ad infinitum.

Há mais desistentes do que fracassados nesse mundo. Entre o fracasso e a expectativa, a Sereia da Desistência e a Santa Ignorância jamais se cansam de cantar.

Eu fracassei muito porque tentei muito. Errei muito e acertei muito. Mas fiz. Dei a cara à tapa - isso é o que importa. E sigo dando: uma nova chance pra mim, a 16ª chance para o outro, a cara à tapa de novo, outra segunda-feira, mais um recomeço, a mão à palmatória, ou qualquer outra coisa que a vida me solicite.

É dando que se recebe, afinal.

O medo de errar e a fobia da expectativa permeiam a nossa época. Ambos só servem à paralisia da ação e à debilidade de nossas próprias e melhores potências.

Não tenha medo de ser ridículo, ridícula. Ridículo mesmo é não viver por medo. Eu já parto da premissa de que sou ridícula, e na sequência, desligo a autocensura e vou viver, vou tentar, vou errar. E pasme!, nessa cadência de boa vontade, vez por outra, eu acerto pra caramba.

Eu sempre criei expectativas sim. As melhores. E graças a isso eu vivi tantas coisas incríveis. A velha anedota de quanto mais alto se vai maior a queda, deve ser mantra dos fracos, tímidos de coração. Eu não.

Sempre cultivei altas expectativas porque nunca soube pedir pouco pra vida, tampouco, esperar pouco dela. E de alguma forma, meio mágica, meio doida, ela sempre me respondeu. E tem continuamente respondido.

Sigo meu caminho ostentando, em gerúndio mesmo, uma lista enorme, expectativas mil e projeções várias. Sou bem grandinha para criá-las, e bem mulher para me bancar, caso eu despenque do quinto andar com todas elas.

Na real, ninguém aguenta mais tanto medo, tanto mimimi, tanto nanana.

Adoro quando meus amigos e amigas me ligam aos berros ou prantos dizendo que erraram, erraram muito, bonito, fizeram a verdadeira beautiful mess, cometeram um erro grego digno de Crasso. Ao final, meu coração sempre fica tranquilo, porque eu sei: se eles erraram é porque estão no jogo de quem tenta; e se eles estão jogando é porque a vida está acontecendo; e só por ela estar acontecendo isso já é felicidade.

O que seria da eletricidade sem a tenacidade de Thomas Edison? O que seria da mobilidade humana sem a persistente loucura de Santos Dumont? A cada vez que um de nós desiste todos nós perdemos. O seu sonho, esse aí que você namora há anos e até hoje não concretizou, não é só seu, é nosso. A cada vez que um de nós realiza um sonho o mundo inteiro se expande em alegria e possibilidade.

Quando uma criatura humana desperta para um grande sonho e sobre ele lança toda a força de sua alma, o universo inteiro conspira a seu favor. Johann Goethe

Adendo necessário: o que mata o plano A é o plano B. Fica mais fácil não desistir quando esta fada nada sensata, a Segunda Opção, simplesmente não existe dentro do seu espectro perceptivo. Alterar rumos, rotas, estratégias, voltar atrás, reconhecer um erro, arrepender-se, tudo isso é caminho. E nenhum deles é desistir. Teimosia, porém, é burrice, um outro jeito humano de cultuar a Santa Ignorância. Pare. Pondere. Analise. Insista apenas no que vale a pena. Não é preciso muita ciência: uma boa dose de bom senso é o suficiente para discernir o canto de uma da outra.

Será a canção da Sereia Desistência ou a ladainha da Santa Ignorância? Escute.

No marketing, quando um produto entra em declínio, a gente não desiste dele, aplicam-se estratégias de reposicionamento. Quando a marca entra em desgaste, aplicam-se estratégias de rebranding. Na vida, diante dos ciclos de caos e ordem, todo desgaste pede uma nova ordem, a invenção criativa de uma configuração que funcione.

Estou aberta a inventar, criar, conversar, dialogar, trocar, entender, alinhar, ajustar, conceder, reposicionar tal cenário, ir à lua e voltar de novo, no matter what. A certeza que carrego comigo é uma só: na minha lista de infinitivos, o verbo desistir não consta.

Meio Lennon, agora, eu só gostaria de exercer meu direito ao Imagine: que nossa época seja de mais fracassados do que desistentes; de mais tentantes e errantes do que covardes perfeitos; que seja de mais ousadia e de menos letargia; que seja de mais arena e menos palco.

If you may say I'm dreamer? But I’m not the only one.

Pelo amor de Deus: fracasse mais e espere muito.

Mas viva.

Só trate de viver - tentar/errar/acertar - de verdade.

Até sempre,

Susan Duarte

Ceo & Founder Zeitgeist iD | A sua marca no espírito da época.

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p.s: Caso tenha caído no canto da Sereia Desistência ou na ladainha da Santa Ignorância, basta de lamento! Deixo aqui uma sequência forte o bastante para quebrar o encanto.

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