Cheiro de livro
- Susan Duarte

- 25 de mai. de 2023
- 3 min de leitura
Na minha primeira escola, o primeiro lugar que eu quis conhecer foi a biblioteca. E logo fiz o meu cartão. Eu tinha 7 anos. Aos 11, tive que providenciar outro cartão, dessa vez da Biblioteca Municipal, porque meu imaginário pré-adolescente já havia transbordado a primeira biblioteca da infância.
Na segunda escola, a primeira coisa que quis verificar foi a biblioteca. E mais outro cartão. Mais velha, quase adulta, minha Disney eram as livrarias, com seu cheiro de livro, de café, e uma balbúrdia sem fim de poetas, escritores, história, realidade e fantasia. Vários universos coexistindo num lugar só. Apenas quem não lê acha que as bibliotecas e livrarias são silenciosas. Lá existem vozes vivas, numa sinfonia que respira ideias e conhecimento, e transborda em sabedoria.
Sempre fui a amiga-secreta mais óbvia de todas. Meus presentes, todo mundo já sabia: livros ou vale-livros para comprar mais livros. Quando era a minha vez de presentear, adivinha só? Mais livros.
Presentear com um livro nem presente é. É um elogio.
A adolescente que fui surtaria se eu contasse pra ela das facilidades da amazon books de hoje em dia. Mas na amazon não tem cheiro. Justamente por isso, sigo indo à livraria, só pra sentir cheiro de livro. Para olfatos mais sofisticados, os acordes de eau de parfum ou as notas de um vinho digno de sommelier devem ser deleites olfativos. Eu sou mais simples.
O meu cheiro é cheiro de livro.
E claro, bolo de milho quente. Se for cheiro de bolo de milho quente com livro, aí sim, meu paraíso está completo, dispensa edição.
Não acredito em quem diz eu não gosto de ler. São mentirosos inocentes. Não há humano que não se enterneça com um livro de sonetos de Shakespeare, não se emocione com Tolstói, não se assombre com Victor Hugo ou não se revolte em Dostoiévski. Basta ler o livro certo. Literatura boa captura qualquer coração. Afinal, é na nossa alma que moram as boas histórias e é, igualmente dela que elas nascem.
Pensando bem, no meu epitáfio, eu deixaria apenas um imperativo a quem ali passasse: leia.
Repito: leia.
Se apenas um transeunte me ouvisse já teria valido a pena. Não ler é o verdadeiro crime e castigo, só que não de Dostoiévski - é uma punição da vida real. Não ler é deixar de abrir milhares de janelas numa vida só.
Livros funcionam como espelho, o espelho invertido de Narciso, refletindo neles aquilo que sou, o que sonho, o que tenho, o que almejo. Não sei dizer se eu leio o livro ou o contrário. Diante de um livro, muitas vezes, assumo o papel de agente da passiva - não leio o livro, sou lida por ela. Os livros, afinal, nos revelam; diria até que eles nos escolhem.
Os livros são armas poderosas. Não à toa, um dos primeiros atos de Hittler foi queimar todos os livros. Não há ignorância humana que sobreviva às páginas de lucidez de um bom livro. Livros são um manifesto de liberdade porque iluminam a consciência de entendimento.
Saber que sabemos é a verdadeira liberdade de Ser.
Os livros têm sido meus amigos, meus guias, conselheiros, e especialmente, a minha ferramenta secreta de transformação. Quando há algo em mim que desejo mudar e aprimorar, a minha pergunta sempre é - qual o próximo livro que me ajudará nisso? Quando me perguntam o quê fazer ou como decidir, meu palpite, além da minha intuição, carrega uma referência literária. Lê tal livro e vais achar um caminho é sempre o que digo. Os livros são luzes pra qualquer andante porque transformam qualquer caminho.

Livros não mudam o mundo, quem muda o mundo são as pessoas. Os livros só mudam as pessoas. Mário Quintana
Ou seja: os livros mudam o mundo.
O poeta está certo. Os livros mudam o mundo porque mudam o nosso mundo. E ao mudar o mundo interno, o externo jamais caberá nos estreitos limites de antes. Quando não sei o que fazer, eu leio. Quando sei o que fazer, leio também para fazer melhor. Quando não quero fazer nada, leio igual.
Porque ler mudou o meu mundo. E graças aos livros, ele só sabe crescer, ficar mais bonito a cada dia, cheirando a livro, dilatando o imaginário, expandindo a vida.
Viva aos livros!
Até sempre,
Susan Duarte
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