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O valor do tempo

  • Foto do escritor: Susan Duarte
    Susan Duarte
  • 13 de jul. de 2022
  • 3 min de leitura

Carta enviada ao meu pai.

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Nos 60 anos dele, eu ganhei o verdadeiro presente: a consciência que valoriza a vida e respeita o tempo.


O eterno, contigo, será sempre muito menor do que o pra sempre.



Pai,


Peço uma licença poética a Quintana, já que a relevância da data assim a justifica.


"Quando se vê, já são 6 horas; quando se vê, já é sexta-feira; quando se vê, se passaram 60 anos."


Creio que estes versos nunca fizeram tanto sentido a ti quanto neste dia. O dia em que celebras 60 primaveras de vida. Dessas 60, 27 escolheste dividir comigo. E olha que o grande pai que és, é só uma das tuas inúmeras conquistas nesta vida. Nunca conheci ninguém que tivesse maior firmeza de caráter do que tu. E para citar outra preciosidade tua: a generosidade que emana deste teu coração de menino e de gigante. É claro que, obviamente, esta combinação jamais poderia ter dado errado. E não deu! Se prestares bem atenção, verás que esta é a soma mais exata na contabilidade da tua vida. Que privilégio o meu te ter por guardião!


Imagino que hoje não seja necessariamente um dia de alegria. Até mesmo porque a alegria costuma nos distrair. E de novo, suponho que hoje, mais do que nunca, este imponente número exija toda a tua atenção e reflexão. Por inúmeros caminhos, tu que nunca estiveste sozinho, hoje, por ventura, estás. Arrisco a palpitar que aí reside um motivo: precisas de hoje dar plena atenção a ti e a esta data. Aproveita este momento. Celebra tua vida e tua existência. Perdoa tuas escolhas, as feitas e as não feitas. Reconcilia-te com a tua história. Não creio que seja válido dispender tempo e energia em análises e avaliações, autocríticas e balanços; não vale a pena. Não agora. Pergunto-me se em algum momento vale... Até mesmo porque esta dezena (60) deve ser uma professora autocrática e implacável no que diz respeito a ensinar, de uma vez e para sempre, o valor do tempo.


Seguindo na minha licença...

"Agora é tarde demais para ser reprovado. Se me fosse dado um dia, outra oportunidade, eu nem olhava o relógio. Seguiria sempre em frente. E iria jogando pelo caminho, a casca dourada e inútil das horas."


Novamente, a poesia sobrepõe a vida e prescinde de qualquer busca inútil de sentido. Pra hoje, além da saúde e das alegrias infinitas deste mundo de Deus e dos Homens que te desejo, se pudesse te dar um único presente, seria este: joga fora a casca dourada e inútil das horas. Para de contabilizar o tempo; já o fizeste numa vida inteira. E quem sabe agora, que ganhaste a licença existencial e vitalícia de não ser mais reprovado, seja a inauguração de uma nova vida, mais sentida, mais presente, onde nela, só olharás e caminharás, paulatinamente, para a frente.

Espero que de hoje em diante jogues o relógio fora.

Quando quiseres, eventualmente, saber as horas, eu estarei eternamente ao teu lado para dizer-te.


Que a vida te traga muitos daqueles momentos que a gente não quer que termine, porque neles - outro poeta que fez a pedra virar poema, nosso Drummond, já nos disse - se revela o eterno, onde o tempo se petrifica e nenhuma força jamais o resgata.


Independente do tempo e dos relógios da vida, nós dois sabemos: em qualquer época, a tua menina te amará para sempre, no presente do indicativo.


Até sempre,

Susan Duarte

Ceo & Founder Zeitgeist iD | A sua marca no espírito da época.

©Copyright 2022 Zeitgeist iD.

POOL DE REFERÊNCIAS

  1. Mário Quintana. Quando se vê já são 6 horas.

  2. Drummond de Andrade: a definição de terno.


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