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Cheiros

  • Foto do escritor: Susan Duarte
    Susan Duarte
  • 27 de jun. de 2023
  • 4 min de leitura

Atualizado: 29 de jun. de 2023

O que é um cheiro? É algo percebido através do sentido humano olfativo.


Cheiro suscita memórias, desperta emoções. Cheiro é a própria memória. Cheiro é saudade. Cheiro pode virar alegria, tristeza, nostalgia. Um cheiro assume qualquer forma e expressão que esteja para muito além do olfato.


Cheiro também é instinto humano. O faro é ligado à intuição, nossa capacidade de visão interior, de perceber o que ainda não é visível aos olhos físicos, mas se escandaliza aos olhos da alma.


Uma encrenca, geralmente, se revela pelo cheiro. Algo de podre no reino da Dinamarca. Nesse aqui, o faro é ferramenta fundamental, alerta vermelho geral de que há algo estranho e oculto no ar. É o cheiro de falsidade. Hamlet que o diga!


Se para os Scorpions, em sua brilhante the Wind of Change, a mudança vem associada ao vento, pra mim, ela se anuncia pelo cheiro. E todo cheiro chega pelo vento. Um cheiro que anuncia o vento da mudança.

Lavanda. Susan, 2023.
Lavandas. Susan, 2023.

Cheiro de lavanda.

Acho que se Deus tivesse um cheiro seria de lavanda.

Cheiro de harmonia, de pureza, da paz que excede todo entendimento, aquela proveniente somente das coisas do alto.


Há cheiros humanos, não divinos, que igualmente nos elevam ao céu. O cheiro do homem que eu amo. Não do perfume dele. Da pele. Dele. O cheiro daqueles olhos verdes, especialmente, quando eles vêm chegando. E como olhos podem ter cheiro? Pois é, eis a magia olfativa operada pelo coração humano.


Cheiro de alívio. De missão dada e missão cumprida. Cheiro de texto escrito. A sensação de que eu consegui dizer exatamente o que eu queria dizer, o que precisava ser dito.


Cheiro de livro novo, repleto de curiosidade, ineditismo, possibilidade. Cheiro de livro velho, que traz consigo o perfume dos velhos amigos, das antigas memórias.

O meu perfume. Susan, 2023.
O meu perfume. Susan, 2023.

Cheiro de Chanel.

O número 5, eterno, por favor.

Aos 6 aninhos, estava mexendo escondida nos perfumes da minha bisavó. Foi quando senti o cheiro do Chanel nº5 pela primeira vez. Ali, naquele momento, bem menina, tomei uma decisão de mulher: esse será o meu cheiro quando eu for gente grande, determinei. E assim foi. Assim ainda é.


Cheiro do meu pai.

Achei o nome do meu pai num bar  do outro lado do mundo.
Achei o nome do meu pai num bar do outro lado do mundo.

Depois de quase 1 ano sem vê-lo, fora do Brasil, virou hábito passar na loja, vez por outra, só pra sentir o perfume dele. Não era o cheiro dele, mas aquele perfume (quase) me envolvia no abraço do meu pai, o mais seguro do Universo.

Cheiro de pai é parecido com cheiro de mundo.

Cheiro de mundo é a essência da liberdade. Quando o cheiro de mundo é associado ao cheiro do pai, vai-se ao mundo, para conquistá-lo, de outra forma. Mais firme e determinado, mais certo, seguro. Pois quanto mais longe se vai, mais presente, na alma, o cheiro do pai se faz. E fica.

Cheiro de erva-doce é cheiro de mãe.

Quando eu era bebê ela fazia chá de erva-doce, pra calmar o choro, a cólica, ninar a alma. Hoje, quando preciso de mãe e de alma, é o cheiro de erva-doce que me acolhe.

O cheiro da comida da minha mãe.

Até o cheiro da cebolinha com alho dela, ambos fritos no azeite e na páprica, é um deleite para os sentidos.


Cheio de bolo quente. Cheiro de bolo de milho. Cheiro de maçã assada. De castanha portuguesa assada. Cheiro de caldo verde. Cheiro de pizza californiana. Cheiro do bolinho de chuva da minha avó Elaine. Cheiro do pão de torresmo da minha avó Cecilia, que não senti, mas trago comigo em memória sistêmica. Cheiro de jantar pronto quando bate aquela fome. Por vezes, nem há fome, mas só o cheiro desperta-a.


Cheiro de vinho do porto. Cheiro da azeitona no martini rosé. Cheiro de café. Ah! Quero café. Cheiro de batata doce assada que se espalha pela casa. Nem preciso comer a batata. O cheiro, por si só, já me embriaga, entorpece.


Cheiro de casa limpa. Sou dessas que ainda faz faxina do tipo raiz. Tem sido cada vez mais raro, mas quando faço, sento no chão e aprecio. Na verdade, naquela noite eu dormiria no meu chão de tão limpo e cheiroso que fica, em absoluta contemplação.


Cheiro de cabelo limpo recém lavado com shampoo. Esse deve morar bem perto do cheiro de amor-próprio, de autocuidado, daquele carinho na'lma.


Cheiro de essência de magnólia. Essência que me devolve à própria essência que sou, ao chão, à terra firme, de volta pra mim. Cheiro de Jasmin. Cheiro de lavanda, que desconfio ser o cheiro de Deus.


Cheiro de Ihhh… O amor está no ar. Cheiro de primeiro amor. E quando for o último, o genuíno, é pelo cheiro que a gente sabe.

Sonho de Uma Noite de Verão. Edwin Landseer, 1851.
Sonho de Uma Noite de Verão. Edwin Landseer, 1851.

Cheiro de terra molhada depois da chuva. Cheiro de verão. Cheiro do sonho de uma noite de verão do Puck, que é de Shakespeare. Cheiro da noite estrelada de Van Gogh. Cheiro de mar. De maresia, de peixes, conchas, areia. O cheiro do mar é o cheiro da abundância e do infinito.

Jardim em Giverny. Claude Monet, 1890.
Jardim em Giverny. Claude Monet, 1890.

Cheiro de flores vivas, feito os jardins de Monet, que são o cheiro da própria vida. Cheiro dos ciprestes e girassóis de Van Gogh.


Dentre tantos cheiros, eu nem tento escolher um. Prefiro o maravilhamento com a benção que é existir debaixo do céu nesta terra que é um reino de magia. Tudo nela deslumbra nossos sentidos.

Basta sentir.

Cheiro de esperança. Cheiro de vitória. Cheiro de vida nova.


O cheiro do vento da mudança. Que esse novo vento, com cheiro de novo mundo, traga pra mim, pra você, per tutti, o cheiro da boa-nova que há muito o coração deseja ouvir, o olfato almeja sentir.


Amém.


Até sempre,

Susan Duarte

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