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Avant-garde

  • Foto do escritor: Susan Duarte
    Susan Duarte
  • 10 de mai. de 2023
  • 3 min de leitura

Quando eu era pequena, ganhei um jogo de tabuleiro que tinha um dado eletrônico. A geração Z que me perdoe, mas pra quem nasceu nos anos 90, um dado eletrônico era o equivalente futurístico digno do professor Doc Brown e seu pupilo Marty McFly. Caso não saibam, Z people, é do filme De volta para o futuro, 1985, direto do túnel do tempo e da guaraná com rolha. Haviam vários jogos de diferentes personagens. A lógica era acionar o dado eletrônico e avançar nas casas do jogo escolhido. O meu favorito era o do Aladim.


Vez por outra, na aleatoriedade dos dados, eu caía numa casa cujo comando era nefasto - volte 2 casas e fique 1 rodada sem jogar. Pra criança que fui, tal "casa" era frustrante, digna de azar. A adulta que sou, entretanto, não só usa tal comando de modo deliberado, bem como aprecia quando os dados do Universo assim dispõem a sua ação.


A história de dar um passo para trás, e então, dar dois passos para a frente é antiga, marco histórico entre os comunistas e capitalistas. Mas eu prefiro dizer de outro jeito: toda vez que recuei, que dei 2 passos para trás, ou mesmo 10, a Vida, miraculosa que é, me impulsionou num salto para frente.


Eu sei que angustia. A gente gosta mesmo é quando dá certo, quando avança, quando progride. Mas pelo menos, andar pra trás também é movimento. Antes aquém do que estagnado, inerte, quiçá, preso.

Quando nada acontece, há um milagre que não estamos vendo. Guimarães Rosa

Zaratustra, o profeta de Nietzsche foi categórico: não recue ante nenhum pretexto, pois o mundo tentará te dissuadir. Conselho sábio, evidente que sim, mas talvez, míope em sua redução. O axioma reduz o movimento da vida a mero avanço e recuo, além e aquém. Seu remanso, porém, é mais sutil, circular, nada linear, e em geral, criativo. Aprendi a duras penas a não resistir. Escolhi fluir nesse remanso, no compasso da vida, rio abaixo. A quem se interessar por esta nova religião, o fluxo da vida, garanto que tenho apanhado bem menos, e me realizado sobremaneira mais.

Dar dois passos para trás, e então, um salto para a frente.
Primeiros Passos. Van Gogh, 1890.
Primeiros Passos. Van Gogh, 1890.

Dar 2 passos para trás, ou 20, proporciona uma perspectiva maior, a panorâmica da qual é nítido observar o fenômeno. E fico ali, quietinha, observando. Por vezes, até vou dormir, enquanto minha intuição trata de clarear o meu discernimento. Ainda distante, desapego, desidentifico-me da situação. Isso é particularmente complexo quando há envolvimento emocional, mas é possível. Nasci intensa, apaixonada, e se eu consigo, acredite, qualquer ser humano também pode. E por fim, depois da clareza e do desapego, faço alguma coisa. A arte de agir inclui a não-ação. Não fazer nada, vez por outra, é a melhor ação. Só deixo que as águas do moinho enfeitiçado se afoguem em si mesmas, enquanto sigo fluindo no rio da realidade real, o da vida.

Eis a parte do salto para a frente.

Ao dar dois passos para trás, eu tiro o ego e sua agenda do caminho. Ao desapegar, permito que a negatividade se dissolva. Até que a Consciência encontra, num salto criativo do Universo, a melhor versão, o caminho de menor resistência.


É fácil? Não. É preciso confiar, descer do pedestal da arrogância racional, no qual os dados são o único jeito de decidir. Extrapolar os dados faz parte da decisão. É bom demais para questões complexas. Ao fim, ao cabo, o remanso do modus operandi consciente sempre sabe mais do que o barulho do ego.


Lá na infância, nos primeiros passos, eu não sabia. Mas viriam muitos erros, acertos e saltos. Do lado de cá, a magia do gênio do Aladim é simples: o bonito mesmo é caminhar.


Avant-garde!


Até sempre,

Susan Duarte

Ceo & Founder Zeitgeist iD | A sua marca no espírito da época.

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