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Aquela que fica

  • Foto do escritor: Susan Duarte
    Susan Duarte
  • 28 de ago. de 2022
  • 4 min de leitura

Fé.

A palavra é pequena, a sua força é gigante.


Alguém já disse que a esperança é a última que morre. Pois eu digo que a fé é única que fica, quando todo o resto se ausentou. A fé é o sagrado que nos move em meio a tudo que profana e suprime nossa potência de viver.


A palavra fé carrega em si o peso da Santa Inquisição, um certo estigma que (quase) obrigatoriamente a aprisiona em seu uso, prática e entendimento a contextos religiosos. Aqui, contudo, pretendo empregá-la para além dos estreitos limites (pseudo) esclarecidos de nossa época. Por ora, quero somente pensar a fé enquanto

a capacidade humana de se relacionar com algo maior do que a sua própria humanidade.

Nunca entendi a fé como um princípio ou uma habilidade adquirida. Eu sei dirigir um carro e jamais pretendo esquecer disso. Minha fé, no entanto, não é tão constante, na medida em que, ora se dilata, ora se contrai, de acordo com as vicissitudes da vida. Gosto de pensar a fé como um músculo, a todo momento carente de fortalecimento - a força que fissura para dilatar e, assim, a fé se afirma em si mesma, e cresce.


Fé na vida, fé no homem, fé no que virá, já cantava Gonzaguinha. Poucas vezes na vida minha fé em Deus, nesse algo maior do que nós, contraiu-se. Admito, porém, que a minha fé em mim e nos (des)caminhos da vida, vez por outra, vacila. E se quem disse que somos feitos à imagem e semelhança de Deus estiver certo, isso implicaria concluir que a minha fé vacilante em mim equivale, consequentemente, à minha fé vacilante em Deus. Até para crer Nele eu necessito da ajuda Dele.

Meu Deus, aumentai a minha fé.

Desde sempre, a história relata maneiras mil, das mais simples às mais extravagantes, do ser humano expressar a sua busca, seu desejo de ligação a Algo Maior do que si mesmo. Templos, catedrais, rituais, sinagogas, cerimônias, dentre tantas outras expressões, denotam a nossa percepção do sagrado, do divino, que não exclui nossa face profana, apenas, ultrapassa-a.


A emblemática frase bíblica afirma que O reino de Deus está dentro de vós. Ok. O reino de Deus está dentro de nós, neste caso, de mim. Mesmo assim, particularmente, eu sempre me conectei a esta força maior de duas formas: ao olhar para a imensidão do Céu, imaginando que, de algum modo, esse algo maior do que nós não é indiferente a nós; e no ato de orar - fiz da oração um ato sagrado de buscar, por mim mesma, este Pai Maior, sobre O qual várias coisas achamos, e muito provavelmente, pouquíssimas, de fato, sabemos.


Para rezar comigo, se quiser

Em um de meus momentos íntimos de oração, escrevi as palavras que seguem. O silêncio também é sagrado, afinal, "o verdadeiro amor e a verdadeira oração são aprendidos na hora em que a oração tornou-se impossível e o coração transformou-se em pedra", escreveu Thomas Merton.


Pai,

Eu quero perceber pelos Teus Olhos,

Eu quero pensar pelos Teus Pensamentos,

Eu quero agir pelo Teu Amor.


Pai,

Eu quero ser a Tua Expressão,

Eu quero manifestar a Tua Glória,

Eu quero viver na Tua Abundância.


E sobre todas as coisas, Pai,

Eu quero permanecer em Ti.

Para sempre sendo aceita e amada no Amado.


Tua Filha, consciente do Teu Amor,

Susan.


Todos nós, em algum momento, já habitamos este lugar impossível de estar, dilacerante ao nível do insuportável. Mesmo lá, em meio ao choro e ranger de dentes, lembre-se de que há algo sagrado - um espaço cuja misericórdia e amor dissolvem nossas dores e dúvidas.


Para apreciar

A obra A criação de Adão, Michelangelo, datada por volta de 1511, retrata bem, em suas mãos, a relação humana com o Divino. Observe: o dedo de Adão está encolhido, vacilante, numa hesitação expressa de sua dúvida, típica daquele que não se joga no rio pois não sabe fluir com as águas; o dedo de Deus, porém, aparece esticado, num ato determinado de alcançar Adão, numa súplica por sua entrega e confiança.

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A fé, seja vacilante, seja resoluta, é aquilo que em nós movimenta as nossas mãos ao céu, ao Deus, ao sagrado, ao divino, embasada na certeza de que há sim algo maior ao alcance da mão de Adão, da minha mão, à distância de um chamado.


Para ouvir

Deus que vê uma folha que cai e é levada ao vento;


Não existe onde ele não esteja e Ele pode escutar nossa voz;


Deus no Céu, Deus na terra, onde esteja, está dentro de nós.

Entre ter fé na dúvida e fé na crença, juro, prefiro mantê-la no ato último, quase teimoso, de acreditar.

Fé é a semente na terra. A gente não vê, mas sabemos que há algo ali, pronto a germinar, no devido tempo.

Fé é o sol num dia nublado. A gente não vê aquela luz esplendorosa, mas ele está ali, ainda brilhando, invisível.

Fé é um milagre silencioso. A gente não vê, mas sente algo que sussurra ao nosso coração, à despeito de quaisquer circunstâncias, que vale a pena, mais que nunca, prosseguir.


Até sempre,

Susan Duarte

Ceo & Founder Zeitgeist iD | A sua marca no espírito da época.

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REFERÊNCIAS

  1. Tela em canvas, A criação de Adão, Michelangelo. https://amzn.to/3wCf1OI

  2. Canção de Gonzaguinha Nunca pare de sonhar.

  3. Canção de Roberto Carlos Quando eu quero falar com Deus.

  4. Sobre Fé: Ainda dá, livro de Mario S. Cortella. https://amzn.to/3TlR87Q


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