Alinhamento
- Susan Duarte

- 18 de set. de 2022
- 4 min de leitura
Outro termo para casamento.
Achei melhor não usá-lo no título. Não quis desencorajar ninguém à leitura.
Reconheço que essa palavra anda um pouco desgastada. Eu diria mais: desacreditada. As estatísticas de divórcio são tão barulhentas que o casamento assumiu a condição de cisne negro, esvaziado de sentido, motivo de escapismo, não mais de encantamento.
Deixei as pretensões e o batom em casa, e fui assistir aquele tipo de filme em que a gente vai mais pela pipoca e m&m's do que pelas ambições críticas e cinematográficas, easy like sunday morning. Ticket to Paradise, uma comédia com Julia Roberts e Clooney tinha tudo para ser clichê e previsível. E não foi. Além de engraçado, para olhos mais atentos, refletiu sobre temas espinhosos da biografia humana - casamento, família e escolhas. Ainda assim, pasme!, o roteiro é primoroso em sua leveza!
O enredo é simples: um divórcio e uma filha. Pós formatura, a menina viaja para Bali de férias com uma amiga, com o roteiro completo de sua vida traçado - advogar&trabalhar em NY para ser feliz. Até que no meio do caminho tinha uma pedra, tinha uma pedra no meio do caminho. Uma pedra chamada amor. E outra mais rara, a autenticidade. Eis que ela se apaixona por um balinês e decide se casar. Pedras dessa espécie fazem o amor de verão subir à serra, perpetram medidas provisórias em decretos permanentes.
Os pais, Julia e George, viajam para o suposto casamento, determinados a dissuadi-la desta "loucura". Nesse ponto, o the american way of life, um modelo pronto de felicidade, é questionado. Até que ponto os pais querem que os filhos reproduzam suas receitas, no imperativo de vencer a vida, chamando isso de amor e proteção? E se os filhos, almas individuais vivendo em épocas diferentes, ao contrário dos pais, ao invés de vencer na vida queiram, na verdade, apenas vivê-la à sua própria maneira? Aos olhos dos pais, ela fez uma escolha maluca. Aos olhos dela, estava apenas sendo autêntica, agindo na consciência de quem decide pertencer à sua vida, ao seu jeito, e não à aprovação parental e social.
A cerimônia de casamento balinesa é especial, repleta de sentido e rituais espirituais. No entanto, o filme enfatiza: não é o cerimonial energético que garante uma união feliz e duradoura. Para tanto, alinham-se 3 pontos:
A pessoa certa. O lugar certo. A circunstância certa.
Eu já estive diante do lugar e da circunstância certa. E deu errado. Estive diante da pessoa certa no tempo errado. E não deu também. Acredite: consegui estar diante da pessoa certa, no lugar certo e na circunstância certa. Mas aí, quem estava desalinhada era eu. Justamente por isso, adiciono ao conselho do filme:
A pessoa certa. O lugar certo. A circunstância certa. Um eu certo.
Desse alinhamento, aí sim, faz-se um casamento. Colocar a carroça na frente dos bois é querer ser unidade, pertencer ao outro, sem ainda ser de si, pertencendo a si mesmo. A unidade não exclui a individuação, muito pelo contrário, ambas coexistem. A instalação do eu em si, a individuação de cada um, constituem a base da união. Quanto mais fortes e firmes em seu Self forem os indivíduos, tão mais concreta será a unidade. Ser de si para ser do outro - mais uma equação à geometria de viver.
A unidade é o pilar fundante da família. Há quem pense que a família começa nos filhos. Erro crasso: sua fundação começa no casal, em duas escolhas individuais que decidem criar uma unidade. Eu não sou a família dos meus pais - quando eu nasci, eles já eram a família um do outro, já se pertenciam porque haviam se escolhido. Eis aqui o poder de um casamento: dele nasce a Sagrada Família, a nossa própria Jerusalém.

Esses dias soube de um noivado. Depois da alegria, perguntei logo quando seria a data do enlace, provisionando meu calendário e o presente. Mas, outra pedra no caminho - os noivos levarão 2 anos para casar, pois, afinal, antes disso, querem uma festa e uma casa, ambas perfeitas. Achei absurdo. Bem Voltaire, discordo do que disseram, mas defenderei até a morte o seu direito de dizê-lo.
Contudo, exerço o meu direito de refletir. Será tão certo estabelecer condições que só adiam a vida? Será garantia de felicidade a casa de boneca e a festa digna da realeza? Pra quê esperar se é mais simples viver?
Alinhamento mesmo é dispensar as condições, realinhar as órbitas dos planetas, trocar de hemisfério, deslocar até o eixo da terra se preciso for, e casar. Casamento é caminhar na vida lado a lado, de preferência, pelo restante dela.
Casamento é ter um ao outro.
É quando isso basta e, por si só, já é o nosso melhor possível.
Não complique muito, não adie a sua vida. Crie a sua Jerusalém, queira pertencer à sua família. Imperfeito e imperfeita, casem: em Bali, em Las Vegas, no cartório da esquina, não importa. Não deixe tanta vida pra mais tarde, não há reembolso de tempo.
Pra quê deixar o melhor para depois?
Até sempre,
Susan Duarte
Ceo & Founder Zeitgeist iD | A sua marca no espírito da época.
©Copyright 2022 Zeitgeist iD.
#pequenadelicadeza #artesaniadapalavra #amor #susanduarte #pequenadelicadeza14 #casamento #filmes #tickettoparadise #ingressoparaoparaiso
REFERÊNCIAS
Tela em canvas de Van Gogh. Santhatela. https://amzn.to/3RWCToI
Quem me roubou de mim? O sequestro da subjetividade. Fábio de Melo. https://amzn.to/3LrYVNL
Maturidade emocional. Frederico Matos. https://amzn.to/3LoSyuy
Mulheres que correm com lobos. Clarissa Pinkola. https://amzn.to/3RYT1pS
Ordens do Amor. Bert Hellinger. https://amzn.to/3Lr2Jim
5 níveis de apego. Don Miguel Ruiz. https://amzn.to/3BvdvPY
Tornar-se pessoa. Carl Rogers. https://amzn.to/3BOZ6PY
p.s: O trailer do filme.








Comentários